quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A Vida, o Amor e... os Zombies

Sou do tempo em que só havia dois canais de televisão: RTP 1 e 2. O primeiro e o segundo canais. Não tínhamos parabólicas, muito menos cabo, as cassetes de vídeo não estavam ainda disseminadas, o DVD estava longe, e as atuais formas de digital ainda nem sequer eram sonhadas. O que víamos? Íamos ao cinema, ou assistíamos ao que os programadores decidiam apresentar.

Não fui uma criança traumatizada. Não tive nada que me marcasse (bem ou mal) durante os anos de formação, salvo um pequeno pormenor. Estávamos nos idos de oitenta, algures entre 84 e 85. Os meus pais nunca me proibiram, per se, de grande coisa, mas lembro-me de certa vez, andava a RTP a passar filmes de terror à sexta-feira e ao sábado à noite, me dizerem que tinha de escolher: ou via o filme de sexta, ou o de sábado. Não ia ficar duas noites até para lá da meia-noite a ver TV. Permitam-me que frise aqui que sou da safra de 73. Grande ano. Primeiro LP dos Queen, entre várias outras coisas de monta que agora não me apetece ir procurar.
Mas voltando às noites cinéfilas, teria de escolher entre um filme de lobisomens da Hammer, em magnífico Technicolor, que passaria no sábado, ou uma coisa a preto e branco, aquilo a que hoje talvez haja quem chamasse de “filme de autor”, uma geekisse que não interessaria a um petiz de 11/12 anos, que passaria na noite de sexta-feira. Optei por sexta. Ora a dita obra cinematográfica intitulava-se Night of the Living Dead/A Noite dosMortos Vivos, a obra-prima de George A. Romero.
Todos os zombies que vemos hoje em dia descendem dos comedores de entranhas de finais da década de 60. O filme marcou-me. Acho que posso dizer que foi a única coisa que me deixou traumatizado desde pequeno. Não, não me tornei psicopata, degenerado, nem outra coisa do género. Modéstia à parte, acho que cresci para me tornar um rapaz simpático e cordial. Mas fiquei apaixonado (passe a expressão) por zombies. E por terror. E por tudo o que saia fora da norma a nível artístico (BD, cinema, literatura, etc.). Daí este título. A Vida é uma dádiva. O Amor é um privilégio. Os Zombies… esses são uma escolha. Ou talvez não.

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